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Os funcionários como o maior patrimônio da empresa

O que levam as organizações a vivenciar isso sempre da mesma forma, como se a "receita" para atravessar uma crise fosse essa, sem mudar nenhum ingrediente?

Fátima Carvalho

Sempre que ouvimos falar em crise econômica e altos riscos financeiros, os reflexos nas organizações são basicamente estes: os ânimos e humores se alteram, a pressão aumenta em todas as áreas, os gestores não dormem direito e o clima organizacional parece um campo minado sempre prestes a explodir. O que levam as organizações a vivenciar isso sempre da mesma forma, como se a "receita" para atravessar uma crise fosse essa, sem mudar nenhum ingrediente?

Penso que nos momentos de crise é que realmente conseguimos identificar os reais valores dentro de uma organização. Quando me refiro a valores estou falando em dinheiro (lucratividade, investimentos e patrimônios físicos), mas também estão nesta lista valores morais e éticos, tais como respeito, comprometimento, ética e, principalmente, lealdade. Quantas pessoas são realmente comprometidas e leais com as organizações em que trabalham e quantas organizações valorizam e são realmente leais com seus colaboradores?

Vemos muitas pessoas trocarem de empresa como se trocassem de roupa, apenas valorizando algum benefício a mais que vai receber, sem levar em conta o quanto a empresa investiu nela e lhe deu oportunidades de desenvolvimento. Por outro lado, vemos empresas que dispensam seus colaboradores como se fossem objetos descartáveis, ignorando quantos anos, horas e até saúde que estes profissionais investiram para que a empresa tivesse sucesso e se destacasse no mercado. Na mentalidade deste gestor, sem nenhum peso na consciência, o que importa é diminuir seus custos e evitar quedas bruscas de receita e faturamento.

Diariamente somos informados pelos principais veículos de comunicação sobre a quantidade crescente de profissionais dispensados pelas organizações, independente do seu porte. Isto coloca em dúvida quais são os critérios utilizados para resolver quem vai embora e quem fica dentro da micro, pequena, média ou grande empresa. Ouvimos dos gestores que, em tempos de crise, é necessário cortar, no mínino, 20% do pessoal. A partir deste cálculo aleatório, os executivos passam a ardilosa missão aos líderes de área para resolver quem fará parte da fatídica lista. Geralmente, os critérios mais utilizados são tempo de casa e o custo total na folha de pagamento.

Ao tomar decisões partindo destes princípios, os gestores e líderes estão apenas focando o valor monetário da organização e acreditando que esta decisão é como jogar de um avião as bagagens mais pesadas para que o mesmo possa ter uma melhor aerodinâmica e estabilidade. É neste momento que muitas empresas possivelmente estão se desfazendo de seus maiores patrimônios.

Por falar em avião, um livro recente aborda a história e trajetória de uma empresa aérea norte-americana e como ela atravessou a maior crise da aviação, após o atentado terrorista de 11 de setembro de 2001. Uma ex-colaboradora da companhia, autora do livro, conta que a organização só conseguiu sobreviver porque a sua filosofia e seus valores culturais não foram alterados.

Com uma conduta demonstrada por meio de práticas diárias de valorização, lealdade e transparência, consideraram que o maior patrimônio são seus colaboradores, e não seus aviões comerciais. Como contrapartida, os colaboradores desdobraram-se para atender bem seus clientes e apoiar os gestores nas situações mais difíceis. Para atravessar e superar uma crise, a organização descartou a ideia de cortar pessoal e decidiu estimular ainda mais seus profissionais para vencerem juntos as turbulências e adversidades econômicas, estruturais e de credibilidade dos passageiros.

Aí está a maior e mais substancial diferença entre as empresas que vencem e as que fracassam. É justamente ter a percepção clara e coerente de qual é o seu maior patrimônio. No processo de contratação de pessoas, os líderes já devem avaliar não apenas um currículo extraordinário, mas também valores morais e pessoais que se identifiquem diretamente com a cultura da empresa.

Somente desta forma as empresas poderão formar uma equipe igualmente consistente e unida nos momentos de glória e de dificuldade. Este fortalecimento permite, inclusive, que todos tirem proveito da situação, quando a turbulência passar. Em tempos de crise, a visão estratégica do futuro rende melhores resultados que medidas drásticas do presente.

Fátima Carvalho é consultora de RH e Responsabilidade Social e docente do Grupo Cruzeiro do Sul Educacional